Um
silêncio estranho se estabeleceu entre Taki e eu, estava começando a ficar
preocupado e vários pensamentos de que ele devia ter ficado mais irritado
comigo do que imaginava rondavam-me. Cheguei ao portão de casa e virei para me
despedir de meu melhor amigo, mas ele já estava indo para a sua casa, eu não
queria que ficássemos dessa forma e quando percebi já estava puxando seu braço.
Para minha surpresa Taki só puxou seu braço sem nem ao menos olhar para mim e
continuou seu caminho.
Eu fiquei ali na rua por um tempo sem saber o
que fazer, uma dor surda começou a tomar forma, eu nunca havia sido rejeitado
pelo meu melhor amigo, por quê? Eu fiz algo que o deixou tão irritado? Uma
reprise do dia passou diante de meus olhos. Certo de que a única coisa de ruim
que fiz foi fazê-lo mentir, isso não deveria ser assim.
Meus
pés se moveram automaticamente, em realidade fiz tudo em transe. Podem me
chamar de exagerado, mas essa foi a primeira vez que Taki me trata deste jeito
e isso machucava. Sentado na cozinha e olhando para o nada mamãe entrou e disse
algo que não escutei, logo após ela saiu e fui para o quarto. Peguei o celular
e disquei o nº dele, mas caiu na caixa postal. Fui até a janela com a intenção
de chamá-lo só que a cortina estava fechada, o que significava explicitamente
que não queria falar comigo por enquanto. Deitei na cama e revirei a noite todo,
entre estado de pesadelos e pensamentos obtusos.
Levantei sem saber se queria ou não me
encontrar com meu amigo, tinha medo que ele me afastasse novamente, sem fome
fui para a escola. Após quatro dias eu finalmente tinha minha carteira de volta
e eu não estava feliz. Com o coração na mão vi Taki entrar e cumprimentar todo
mundo, mas passou direto por mim. Baixei a cabeça e olhei fixamente para o meu
caderno, eu não queria chorar então engoli as lágrimas e permaneci todo o
período ali, sem me mexer, nem por um momento olhei para fora e muito menos saí
do meu lugar no intervalo com medo de que fosse desmoronar. Por fim não pude
mais protelar e pedi licença ao sensei para ir ao banheiro, estava distraído
por isso que quando vi estava no chão, droga... tentei levantar e percebi que
meu braço tinha um corte. Suspirei exasperado e mudei a direção para a
enfermaria, eu odiava o meu amor pela gravidade... Coloquei a mão na porta
quando escutei a voz das duas pessoas que menos esperava que estivessem juntas.
-
O que você pensa que está fazendo? - A voz de Taki chegou com clareza aos meus
ouvidos e podia dizer que estava irritado. - Não tinha o direito de envolver
ele nesta história, achei que você só estava brincando por isso deixei, mesmo
sabendo que ele o amava. - Arata deu uma gargalhada fria que me enviou um
arrepio de medo, pois nunca pensei que pudesse fazer algo assim.
-
Não até você voltar para mim. - Como assim? Voltar para mim? O que esta
acontecendo? Com o coração acelerado aproximei-me mais da porta.
-
O que aconteceu entre a gente é passado. Isso foi quando eu não estava bem... -
A última sentença foi dita com um fio de voz, se não estivesse tão próximo da
porta jamais teria escutado.
-
Sim sim, você já me disse que é por causa da Daria sei lá o que, mas mesmo que
você ache que acabou para mim ainda não. - Eu não podia acreditar, meu melhor
amigo e o cara por quem eu estava apaixonado. Mesmo que eu quisesse do fundo do
coração correr minhas pernas não se moviam.
-
Você não sabe o que fala! - Taki rosnou. - Como ficam os sentimentos de Masara?
- Essa era uma resposta que eu também queria saber e ao mesmo tempo não, tinha
medo, mas a certeza de que independente da resposta meu coração estava
devastado.
-
Ele é fofo, mas irritante... quem começou a situação foi você, por sempre ficar
rondando esse pirralho! E fora que você é tão culpado quanto eu, pois você
nunca contou para ele sobre nós... - Meu olhos encheram de lágrima, mas quis
olhas pela fresta da porta e pude ver seus lábios entrelaçados. Eu não queria
mais, na verdade eu estava correndo já. Correndo para longe dessas pessoas,
como eles podiam fazer isto comigo? Doía tanto, tanto que era difícil de
respirar, mas eu não queria respirar, por que respirar significava parar e eu
não estava pronto para isso.
Minhas pernas me levavam em direção a minha
casa, cheguei em frente ao portão e inundações de lembranças minhas e de Taki
vieram, era tão doloroso, meu coração estava apertado, não, ele estava
destroçado. A única vez que me senti assim foi quando soube da morte do meu
padrasto, só que agora era diferente ninguém além de mim estava morrendo, todo
o amor que cultivei, todo o cuidado e carinho que dei estavam se esvaindo com
as lágrimas deixando o nada, um vazio surdo que podia ecoar em meus ouvido.
Virei em direção oposta de casa já me desculpando com mamãe mentalmente
enquanto deixava o fluxo de ruas intermináveis determinar meu caminho.
Por mais que pensasse não queria acreditar que
as reações de Arata eram mentira, ou que o abraço cálido de Taki também era
falso, ou seus sorrisos, por que eles fizeram isso? Eu sou uma pessoa tão ruim
assim?
-
Diga que é mentira... Onegai... Diga que é só um pesadelo...- O único que me
respondeu foi o silêncio do parque ecoado pelos meus soluços incontidos. Mesmo
que eu estivesse bem ali, a miséria agora era meu codinome. Eu chorei por tanto
tempo que se me perguntasse não saberia dizer, mesmo que estivesse entorpecido.
Mesmo que eu estivesse entorpecido permanecia me recriminado por não ser digno
de amizade e nem da pessoa por quem faria de tudo.
Esse simples pensamento me levou um sorriso
amargo nos lábios, estava desejoso de voltar a época em que eu amava de longe,
de pensar que meu amigo era realmente um amigo, de achar que o amor era uma
coisa feliz, parando para analisar vários autores morreram se suicidando por
amor, coisa estúpida. Eu nunca faria isso, jamais faria minha mãe chorar, por
falar nela provavelmente deve estar tendo um surto. O momento de chafurdar a
dor tinha acabado, faria uma coisa que a muito não tinha feito, trancaria toda
essa dor em meu coração e se algum dia transbordar espero estar mais preparado.
Só
fazia isso para fugir dos meus sentimentos e da dor, não vou mentir dizendo que
sumiria, mas quem sabe algum dia se tornasse menor, só que talvez eu já não
possa amar como antes e muito menos confiar como um dia fiz.
Após
algumas tentativas e erros consegui achar o caminho de casa, já passavam das
onze da noite e todas as luzes estavam acesas. Lentamente subi os degraus de casa
sem nunca olhar para o lado. Abri a porta e pude escutar os soluços de minha
mãe, fui em direção a sala e ela estava inconsolável nos braços do homem que
amava, isso me deu uma pontada de dor que tornou difícil respirar no momento,
mas mantive a compostura. Ninguém precisava saber o que tinha acontecido, muito
menos mamãe. Eu ri mentalmente por criticar minha mãe por guardar seus
sentimentos e agora eu a entendia perfeitamente.
-
Mãe? - Chamei quietamente, ela endureceu e levantou a cabeça, penso que neste
momento ela me daria o maior sermão da história dos sermões, mas acho que
alguma coisa a impediu e se lançou em meus braços soluçando ruidosamente.
Ficamos assim, eu segurando minhas emoções e minha mãe desabafando as delas,
era tão quente seu abraço.
-
Nunca... nunca faça isso novamente. - E esta foi a única coisa que ela disse,
mas que estava contida toda a sua preocupação, desespero e alívio. Depois disso
fui para o quarto e Taki estava na janela, quando me viu fez sinal para conversarmos,
fui até lá e fechei-a juntamente com a cortina. Tomei banho e fui embalado para
um sono sem sonhos.
No dia seguinte tomei café e fui para a
escola, apreciando o sol em meu rosto. Era incrível que mesmo que tudo
estivesse se ruindo ao seu redor o dia era bonito e as pessoas continuavam seus
caminhos. Cheguei na escola e deixei um recado para Arata terminando tudo com
ele e pedindo que não me procurasse. Sentei na carteira no fundo longe de Taki
e da janela. Estranho como parecia que Taki agora era apenas mais uma pessoa,
as vezes eu tinha medo dessa minha capacidade de massacrar as coisas que me
incomodavam ou não faziam bem.
-
Como você está? - Não tinha notado que se aproximou de mim, olhei para cima sem
encontrar seus olhos.
-
Bem. - Ele ficou ali esperando por mais. Eu me levantei com a intenção de sair,
mas ele ficou em minha frente impedindo passagem.
-
Fiquei sabendo que terminou com Arata... - Eu queria gritar neste momento,
bater em sua cara mentirosa, mas não foi isso que aconteceu.
-
É... - Minha voz saiu sem emoção até mesmo para meu ouvidos, pude ver surpresa
estampado em seu rosto.
-
Fale comigo Masa, sei que você deve estar sofrendo... - Era duro escutar o
apelido carinhoso em seus lábios e isto foi o que eu podia aguentar por hoje.
Levantei bruscamente fazendo-o dar um passo para trás.
-
Mesmo se estiver, você seria a última pessoa com quem eu conversaria... E mais
uma coisa. - Olhei fundo em seus olhos e disse - Fique longe de mim.
-
Não é o que você pensa... - Olhei-o com nojo e saí.
Por
incrível que pareça nas últimas semanas ambos ficaram me atormentado, mas
evitei-os como uma alma evita o submundo. Kyoko-chan se aproximou de mim e
inevitavelmente conversamos, eu retiro tudo de ruim que disse sobre ela, na
realidade era uma pessoa agradável, com seus defeitos, mas subiu em meu
conceito.
Estávamos a um dia das férias de julho e a
sala estava em polvorosa, os alunos fariam uma viagem, mas ainda estavam
decidindo o local, de qualquer forma eu não iria, pois este seria meu último
dia ali. Mamãe ia se casar semana que vem e íamos nos mudar, isso foi bom, pois
poderia recomeçar e provavelmente o ar entraria mais leve em meus pulmões e
aquele desconforto no peito iria gradualmente desaparecer.
-
Masa você não vai mesmo? - Kyouko perguntou pela enésima vez, sorri
educadamente e balancei a cabeça. Seus olhos azuis encheram de água, ela veio e
me deu um abraço, ninguém além dela sabia que eu iria e muitas pessoas pensavam
que estávamos juntos agora.
-
Shi não chore... - Mesmo que tenhamos feito uma amizade em pouco tempo, podia
dizer que nunca me esqueceria dela. - Venha me visitar qualquer hora.
-
Posso mesmo? - Seus olhos me encararam e eu assenti, um lindo sorriso se formou
em seus lábio, bem como o último sino, ela se amuou um pouco. - Fique bem. - Me
deu um beijo no rosto.
-
Você também, sabe meu nº pode me ligar a qualquer hora. - Dei um beijo em seu
rosto e sorri. Recolhi meus materiais e fui em direção ao portão. Quando
cheguei lá olhei de volta para a escola e sabia que sentiria falta dali, mas
acho que essa página já precisava ser encerrada mesmo que alguns capítulos
estivessem em aberto.
-
Podemos conversar? - Eu estava odiando essa frase agora. Crente que poderia ser
só um pesadelo olhei para encontrar Arata.
-
Diga. - Não ia mudar nada escutá-lo nestas alturas, não vou mentir que já não o
amo, mas não com a mesma intensidade, era só uma sombra do que um dia já foi.
-
Gosto de você... e ... queria outra chance. - Como eu quis escutar essa frase
uma vez, teria me feito uma pessoa tão feliz.
-
O que aconteceu por seus sentimentos pelo Taki? - Ele endureceu e me olhou como
se não acreditasse que eu sabia. - Sim eu sei tudo, sabe qual é a melhor parte?
Foi por um mero acidente. - Eu considerava uma piada interna, pois eu sempre
reclamei dos meus acidentes e foi esse que me mostrou a verdade.
-
Então... você... nos ouviu? - Qual era a do ficar nervoso agora? Já é passado e
sinceramente não quero ficar revivendo este tipo de coisa.
-
Sim, não só ouvi como vi também. - Dei um sorriso apertado - E quanto a
voltar... eu não quero. - Não sabia que as feridas em meu coração poderiam se
reabrir com essa simples conversa.
-
Onegai... me dê outra chance, tudo pode ser diferente... - Isso foi horrível de
se dizer. Fingindo não escutar seu apelo fui em direção ao brilhante sol,
seguindo uma rua diferente, pois assim mesmo que algumas lágrimas ainda
escapassem cairiam em um legar diferente marcando um fim e quem sabe meu
coração pudesse perdoá-los... algum dia.
FIM.
Palavras da Autora:
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Por Finn
Muito bom!
ResponderExcluirparabéns!! \(*-*)/
Sério Parabéns essa foi uma linda história chorei .....
ResponderExcluirSério Parabéns essa foi uma linda história chorei .....
ResponderExcluirParabéns muito linda ameii...
ResponderExcluirserio eu gostei muito mas na minha opinião de ele terminasse com o Taki seria demais
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