A
noite estava tão bonita que não consegui evitar á sair no quintal para pelo
menos olhar um pouco a lua cheia. Era tão bom sentir a leveza do meu corpo, mas
o que é melhor que isso era poder ficar com Nao toda hora. Hoje eu tinha
descoberto algo estranho, meu anjo tinha discutido com sua mãe e eu não estava
no momento, me desesperei quando não o achei até que senti uma sensação
estranha e a segui, era como uma linha que me puxava para aonde Nao estava, fiquei
tão feliz de encontrá-lo e ainda mais por saber desse pequeno bônus.
Desde que o encontrei á duas semanas atrás ele
tem estado melhor, já não chora com frequência e se vê até mesmo sorrindo
aleatoriamente, mesmo que seja um sem vida. Uma pressão começou a se formar no
meu peito e isso estava fazendo-me sentir mal, mas não era eu e sim Nao. Voltei
para dentro da casa e meu anjo estava tendo algum pesadelo. Esses pesadelos eram
frequentes e eu me sentia como se estivesse com dor física por não poder ao menos
abraçá-lo e consolá-lo. Me aproximei da cama e quase achei que ele estava me
vendo, pois sua linda voz sou como água cristalina em meio a noite.
-
Inuy... Inuy não me deixe... - Meu coração se aqueceu novamente, de alguma
forma sabia que ele estava me chamando, mas não me lembrava desse nome.
Aproximei-me mais e sentei ao seu lado e ele parou um pouco, mas as lágrimas
ainda escorriam de seu rosto. - Gomenasai... Inuy...
-
Shi... pequeno. - Com um suspiro ele voltou a dormir um sonho sem sonhos e
fiquei ali, ouvindo sua respiração baixa e notei como suas olheiras diminuíram,
mesmo que ainda escuras era melhor do que no primeiro encontro. Baixei a cabeça
e beijei sua testa, eu queria tanto que ele fosse feliz como uma vez já o foi.
Não sei a origem do pensamento, mas ele estava ali rondando-me e percebi que
tomaria como minha missão cuidar desta pessoa que me era tão importante.
O sol já penetrava a janela de seu quarto
quando o despertador tocou, essa era uma das minhas melhores partes do dia,
quando o via acordar com o sol em seu cabelo. Tão adorável que me deixava sem
mesmo um pensamento que fosse. Ele desligou o despertador e se espreguiçou como
um gato manhoso, seus olhos se abriram lentamente, por mais que o céu lá fora
fosse belo, para mim era ainda mais seus olhos azuis.
-
Nao-chan já acordou? - A voz de sua mãe veio baixa pela porta, ela a abriu um
pouco e olhou para dentro, realmente eram parecidos.
-
Sim. - Ela assentiu e saiu. Os olhos azuis esquadrinharam o quarto e caiu no
álbum em cima da cabeceira da cama, suas mãos o tocaram com cuidado com medo
até, pegou-o e apertou em seus peito. - Hoje começo uma nova escola... - Eu
quase não o tinha ouvido por ser sussurrado. -
Eu... estou com medo... - Fui para o seu lado e acariciei seus cabelos, seus
olhos se fecharam como se estivessem sentindo a carícia. - Quase posso sentir
que está aqui... - Ele disse novamente com um sussurro.
-
Nao-chan se apresse se não você perderá o ônibus! - A voz de sua mãe o acordou
de seu transe, com um suspiro ele beija o álbum e saí fazer suas necessidades.
Vou para a cozinha observar sua mãe fazendo comida enquanto cantarolava. Ela
parecia feliz hoje, normalmente estava com um semblante preocupado e ver Nao
bem parecia acalmar seus nervos.
Meu anjo desceu pelas escadas com o novo
uniforme e se sentou na mesa, mas em vez de comer tudo no prato só dava
pequenas beliscadas, se pudesse apertaria suas bochechas por não comer certo.
Ele olhou para o relógio e por mais que faltasse algum tempo se levantou para
ir já ao ponto de ônibus.
-
Não se esqueça de que chegarei tarde hoje, sua janta estará na geladeira é só
esquentar. - Ele assentiu. - Espero que faça bastante amigos... - Nao não a
olhou com essa menção, se despediu e saiu. Seus passos eram lentos, mas seus
olhos observavam tudo e eu me perdia em como o vento brincava com seus cabelos,
era uma visão privilegiada e podia dizer que várias pessoas achavam o mesmo,
pois paravam e o observavam. Mesmo assim meu anjo permanecia sem perceber as
pessoas, se concentrava em algo que deveria estar escondido em suas lembranças.
O ônibus não demorou muito ao chegar e quando
me toquei já estávamos na sua nova escola, era grande e com facilidade
comportava a grande quantidade de alunos. Meu anjo foi até a coordenação pegar
seu horário e seguiu para a sala. Podia sentir que estava nervoso e me
aproximei mais dele e novamente percebi que a tenção deixava seu corpo. O
sensei entrou na sala e Nao esperou fora até ser anunciado.
-
Hoje teremos um novo aluno, quero que vocês sejam seus amigos... - Não ouvi o
resto do que o sensei falou por causa do estremecimento de meu anjo quanto a
menção desta palavra novamente. - Nao-chan entre.
-
Oi... meu nome é Nao Mizaki... prazer em conhecê-los. - Normalmente as pessoas
diziam "cuidem bem de mim", mas não Nao, ele provavelmente já estava
estabelecendo uma distância entre seus novos colegas. Tinha uma convicção cega
que quanto a isso mesmo não sabendo a origem.
Nao sentou no fundo ao canto esquerdo, podia
escutar os cochichos de como meu anjo era bonito e tal, mas ele simplesmente
ficou em silêncio perdido em seu próprio mundo. Veio o intervalo e com ele
algumas pessoas tomaram coragem para conversar, mas Nao respondia o que lhe
perguntavam e assim os outros foram perdendo interesse ou até mesmo repelidos
por sua indiferença.
A penúltima aula era vaga para que os alunos
que ainda não escolheram um clube pudessem procurar.
-
Nao-kun quer ir ver os clubes no mural? - A garota que o chamou tinha grandes
olhos cor cinza e cabelo loiro, muito bonito de um jeito bonequinha de
porcelana. Nao levantou os olhos como se percebesse que ainda se encontrava na
escola.
-
Pode ser... - Ele se levantou e seguiu a menina. Chegando ao mural eu já sabia
sobre toda a vida da garota, pois ela falava muito. Isso parecia agradar meu
anjo, já que este detestava falar sobre si, sei disso pelas respostas evasivas,
principalmente sobre como era sua antiga cidade.
Nao observou todos os panfletos, mas nenhum o
tinha agradado até que seus olhos caíram sobre um pequeno. " CLUBE DE
MÚSICA", seus dedos traçavam a letra e uma lembrança alcançou-me e pude
imaginar seus belos dedos finos tocando um violino, como se o papel o queimasse
ele tirou as mãos e desviou o olhar com certa dor.
-
Oh... você gosta de música? - Nada passava despercebido por Maria (a garota
loira). Nao acenou em negativa.
-
Eu vou indo embora... - Se virou para sair.
-
O clube de música fica no segundo andar, sala 4. - Ela disse por seu ombro, Nao
somente assentiu. Quando chegamos nas escadas que levavam para o segundo andar
meu anjo olhou incerto, eu queria tanto que ele fosse. Como se meu pensamento o
tivesse ajudado a se decidir ele tomou em direção as escadas em passos lentos e
cuidadosos. Chegamos em frente a sala, mas estava vazia a primeira vista, a mão
de meu anjo foi para ver se a porta estava destrancada e para minha felicidade
estava aberta, então Nao travou. Não entendi o motivo até que escutei uma
melodia que me arrodeava e puxava para mais perto, eu a conhecia. Lembrei-me de ter ficado muito tempo ensaiando
tal música, pois era importante para conseguir aquela pessoa. Quem era a
pessoa? Por mais que eu tentava recordar não conseguia, mas ao menos o nome da
música me lembrei era Clair de La Lune.
Nao ficou por um tempo incontável assim, olhei
e vi lágrimas escorrerem de seus olhos, eu queria secá-las e beijei-lhe o
rosto, novamente seus olhos se fecharam como se sentissem. Seus braços se
moveram e se abraçou como se tentasse segurar os pedaços de seu coração juntos,
o abracei e ficamos assim até o término da música, mas as lágrimas de Nao nunca
cessaram, ainda estava perdido em suas recordações. Eu queria tanto, mas tanto
que chegava me doer poder acabar com todas as suas dores.
Tanto eu como Nao nos despertamos de nossos
estados contemplativos quando um garoto alto, com uma construção corporal
mediana, olhos mel e cabelos encaracolados loiro ficou observando o rosto de
Nao de modo impassível.
-
É falta de respeito espiar as pessoas. - Sua voz era fria e até mesmo um pouco
sem emoção. Como alguém assim poderia tocar tal música? E eu gostaria de lhe
dar um soco neste momento por deixar Nao pálido e com olhar arrependido.
-
Desculpe. - Nao não havia olhado para cima ainda até aquele momento. - Eu só
queria ver... hummm... o clube... - O garoto levantou a mão e Nao se encolheu
achando que ia apanhar, se esse fosse o caso eu teria feito algo, mas percebi
pelo olhar do desconhecido que ele nunca faria mal ao meu anjo. O estranho
secou a lágrima de Nao com o dedo.
-
Por quê chora? - Sua voz continuava fria, mas tinha um toque de emoção agora.
Nao olhou em seus olhos incerto quanto ao que falar.
-
Não é por nada... é só que... essa música me trás recordações de uma pessoa
muito importante... - Nao desviou os olhos do estranho e olhou para o piano. -
Tocas muito bem. - O garoto parecia surpreendido.
-
Você toca? - De alguma forma eu sabia que meu anjo tocava e de forma esplêndida.
Nao continuou olhando para o piano intensamente como se quisesse ver alguém que
não se encontrava na sala.
-
Não mais. - Foi sua resposta quieta sem nunca desviar os olhos do piano.
-
Por quê não? - O estranho parecia em confusão e eu compartilhava de seu
sentimento.
-
Minha inspiração se foi... - Aquilo foi como arrancar algo em minha alma. Como
se percebesse que falou de mais, Nao fez a coisa costumeira de virar e fugir,
toda vez que ele fazia isso me sentia horrível como se fosse perdê-lo a
qualquer momento.
-
Ei você! - Achei que o estranho tivesse dito para Nao, mas ele já estava longe,
então percebi que me olhava. Isso certamente foi uma surpresa.
-
Sim? - Eu não me escutava, mas parecia que ele o fazia.
-
O que faz assombrando o garoto? - A hostilidade rondavam suas palavras. Eu
começava a sentir o puxão de quando Nao se afastava muito.
-
Não o assombro. - Eu queria ir ao encontro de Nao, pois podia sentir seu
desespero.
-
Então por quê fica ao seu lado? - Para mim pareceu uma pergunta desnecessária,
mas para o estranho era importante.
- Para cuidá-lo. - Eu
já estava indo embora quando um pensamento me ocorreu. - Seja amigo de Nao. -
Antes de ir ao encontro do meu anjo vi o quão surpreso ambas as coisas que eu
disse o deixaram, mas isso não importava no momento, pois minha alma
necessitava Nao.- Feita por Finn
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