Um
possível avanço
Três semanas de treinamento e nada, os
professores já estavam ficando irritados com a falta deles nas aulas e seus
colegas lhe perguntavam o que estava acontecendo, ate especulavam coisas que eles
não negavam nem afirmavam.
Esis estava cansado de tentar, seu corpo
recebia os danos de uma má citação, mas não tinha contado isso a Dean, do
contrario ele pararia. Esis precisava era que ele estivesse determinado cada
dia mais, mas também andou admitindo para si mesmo que estava cada vez mais
difícil ficar tão próximo a Dean e não se lembrar do passado, de tudo que
tinham vivido.
Encarou-o dormindo, teve vontade de se
aproximar, mas se conteve. Precisava deixa-lo escolher dessa vez, mas por tudo
que era mais sagrado ele sempre pedia para que Dean escolhesse a ele.
Encarou o relógio na parede, eram seis
da manha, logo Dean acordaria. Esis tentou pensar em qualquer coisa para apagar
a magoa do seu rosto, não queria ser visto assim por ninguém.
Como esperado, quando o relógio bateu
seis horas Dean remexeu-se na cama procurando o despertador. O barulho
irritante do despertador parou e este sentou-se na cama encarando a outra cama.
Imaginando milhões de coisas das quais
ele fez questão de apagar da cabeça. Os sonhos tinham parado e as visões
também, mas volta e meia ele ainda ouvia a voz de Esis chamando por ele, como
se estivesse mais distante a cada dia.
-Esis, está acordado?
Esis temeu responder sem saber o que
vinha depois. Então sentou-se não conseguindo fingir.
-O que quer?
Dean queria entender por que seu amigo
lhe parecia tão atraente hoje, ele imaginou uma cena em sua mente e depois a
deletou rapidamente como se tivesse medo de que Esis pudesse saber.
-Saber como anda meu desempenho.
Esis tinha raiva só de pensar em dizer
que não estava resultando em nada, quando Dean se esforçava tanto, dava o seu
melhor. Eles tinham lutado juntos, várias vezes antes, mas ele tinha que se
esquecer de tudo.
-Temos alguns possíveis avanços.
-Está mentindo, você nunca me olha nos
olhos quando vai mentir. – embora se lembrasse pouco, conhecia Esis muito bem.
-Você não tem autocontrole sobre as
palavras, elas te dominam e... – ele se silenciou antes que falasse besteira.
-E o que?
-E assim nunca conseguiremos entrar no
jogo – mentiu tentando olhar nos olhos dele, mas encarar aquele mar verde fez
seu coração apertar e seus olhos lacrimejarem.
-Por que está tão triste Esis? – ele
mudou de assunto.
-Não estou triste, estou preocupado.
Essas palavras exigem muito do mestre e do seu combatente, e se eles não
estiverem em perfeito equilíbrio nunca vai funcionar.
-Vamos tentar encontrar um equilíbrio
então. Vamos, Rosane trouxe bolinho de bacalhau para nós.
-Pensei que ela fosse para casa em dias
de sábado e domingo.
-Isso ate ela terminar com... O que
mesmo? Sexto namorado?
Esis riu junto a Dean e eles se ergueram
para ir ate o refeitório. O dia de Esis piorou quando ele viu Leandra na
cozinha.
-Olá meninos, vim dar assistência a
Rosane – ela disse passando por estes.
-Percebemos isso sozinhos – Esis
murmurou.
-O que?
-Nada, onde está Rosane? – perguntou
Dean.
-Ela teve de ir buscar a filha no
colégio e pediu para que eu ficasse aqui tomando conta de tudo. Ela mandou isso
para você Dean.
-Obrigado Leandra!
Ela se afastou mandando beijinhos no ar
para Dean. Esis sentou-se na cadeira mais distante do balcão que tinha, por que
ela adorava provoca-lo dessa maneira? Ainda acreditava que ela fosse sua amiga,
ate quando ela começou a ignora-lo para que Dean desse atenção a ela.
-Por que fica irritado quando Leandra
está por perto?
Esis quase despejou na cara dele que era
por que ele morria de ciúmes e que não suportava a ideia de Dean ver Leandra
como uma parceira.
-Por que não gosto de falsidade.
-Está falando daquele dia...
-Qual? O que ela nos convidou a ir uma
festa e sumiu com você me deixando para trás com um bando de adolescentes
alcoolizados? Sim, é desse dia que estou falando.
-Então por que continua a falar com ela?
-Por que tenho que manter os inimigos
por perto – ele disse como se fosse obvio, Dean riu com a declaração.
-Você é uma gracinha irritado.
-E você é uma gracinha surrado – ele
avisou.
-Tudo bem, acabou a brincadeira. Então
vamos treinar?
-Não sei, não temos muitos avanços...
-Então vamos convidar algum mestre a
jogar, é na pratica que se aprende, não é o que os professores dizem?
-Mas em Pugnator a pratica sem o
aprendizado leva ao prejuízo. Tenha essa conta sempre em mente.
-Então vou me esforçar para aprender...
Sozinho.
-Não, tudo bem Dean, eu vou te ajudar.
-Vamos – chamou Dean pondo um bolinho
inteiro na boca – Isso aqui é bom!
-Me deixa ver – Esis pegou um bolinho e
colocou-o inteiro na boca, era engraçado ter a boca muito cheia com alguma
coisa.
Eles saíram do prédio comendo os
bolinhos e discutindo uma técnica para aprender melhor.
Treinaram durante horas, ate Esis
desmaiar de cansaço. Dean correu para perto deste dando-lhe leves tapas para
que este reagisse, mas nada. Pegou Esis nos braços e o levou ate a enfermaria,
Jana – por sorte – estava de saída quando ele entrou.
-O que houve?
-Eu não sei, estávamos treinando artes
marciais quando ele desmaiou – mentiu.
-Coloque-o ali! – ela pediu vestindo
novamente seu jaleco e preparando-se para trabalhar.
Dean esperou ate que Jana dissesse o que
tinha acontecido, seu coração estava batendo tão rápido que pensou que ele
sairia pela boca.
-Não é nada serio Dean, ele só precisa
descansar. Deixe-o dormir aqui hoje à noite e amanha estará como novo.
-Ele desmaiou, como pode estar bem?
-Quando as pessoas se cansam demais e
não descansam como se deve isso pode acontecer, agora se acalme e vá descansar.
-Não, eu vou ficar aqui.
-Tudo bem, mas feche a porta depois que
eu sair. – disse a doutora sem se importar. Afinal aqueles dois não se separavam
nem se dissessem que faziam mal um ao outro.
Jana se retirou e Dean fechou a porta.
Encarou Esis por um bom tempo, sentado na poltrona da doutora que ele tinha
levado para a sala por ser mais confortável. Ele desejou que Esis acordasse e
dissesse que estava tudo bem, mas então seria muito constrangedor explicar o
porquê de eles estarem sozinhos na enfermaria. Mas com toda certeza daria uma
bronca nele quando este acordasse.
Seu corpo se ergueu sozinho, estava
escutando o instinto, e caminhou ate Esis. Cada nervo do seu corpo hesitou,
mesmo assim ele ergueu a mão e afundou-as levemente nos cabelos de Esis, sentiu-se
tão completo com o contato. Mas se afastou, também institivamente, voltando a
cadeira.
Ele
não queria, mas seus olhos se fecharam lentamente e então ele se permitiu
descansar um pouco.
Esis abriu os olhos e observou tudo a
sua volta, estava na enfermaria. Sua cabeça latejou quando ele sentou-se na
cama, devia ter descansado por mais tempo. Droga, agora Dean ficaria uma fera e
possivelmente não iria mais querer treinar. Imagine se Esis lhe contasse sobre
Lumina draconis, não ele não queria nem pensar nisso agora. Estava bem do jeito
que estava. Por falar nele, onde estava Dean?
Esis percorreu o lugar com os olhos
novamente e o encontrou dormindo na cadeira de frente a sua cama. Sentiu-se
desconfortável só de imaginar Dean observando-o, mas também lembrava-lhe um
pouco a infância, antes do acidente.
Levantou-se e logo sentiu-se zonzo,
andou devagar ate alcançar a cadeira. Agitou Dean para que esse despertasse,
ele não estava certo se era isso que queria, mas ainda assim o fez.
Dean abriu os olhos e assustou-se ao ver
Esis a sua frente, por um instante ele achou... bem, ele achou algo estranho
que agora não fazia ideia do que era. Mas então logo passou e sua preocupação e
raiva ocupou o lugar.
-Sente-se Esis – Dean o forçou a voltar
para a cama.
-Mas já estou bem, dessa vez, eu prometo
– ele disse logo tudo de uma vez para que não perdesse tempo falando aos
poucos.
-Por que não me disse que não estava se
sentindo bem?
-Por que você agiria dessa forma, e nós
temos que treinar para entrar em algum torneio.
-Os torneios podem esperar...
-Não, não podem. Eu tenho que lutar.
-Por quê? – Dean não estava conseguindo
entender nada, por que ele tinha que lutar assim, tão apressadamente de
repente?
-Por nada! Esquece – ele se apressou em
dizer, na verdade Dean também precisava entrar em uma batalha, para ativar
Lumina draconis, mas como Esis mesmo tinha admitido para si próprio, estava bom
do jeito que estava.
-Tudo bem, então... Descanse um pouco,
ao amanhecer iremos atrás de um torneio. – decidiu-se, ele também precisava
aprender a como ser um bom mestre, e qual experiência melhor se não aprender na
pratica?
-Está falando serio? – por que ele estava
surpreso? Afinal Dean sempre fora imprevisível.
-Sim, mas descanse.
-Já sei, já sei. – Esis voltou-se a cama
e deitou-se – Ah, obrigado por simplesmente não me deixar aqui e ir embora.
Dean sentiu seu rosto aquecer e
voltou-se a cadeira no mesmo instante.
-Não foi nada, só fiquei preocupado e
queria brigar com você por isso – ele tentou fazer parecer coisa pouca.
-Mesmo assim obrigado. – Esis tinha
certeza que o estava encarando novamente, pois Dean ficou vermelho da cabeça
aos pés, não dava para perceber demais, mas Esis sabia, por que já conhecia
Dean o bastante para saber como este se sentia.
-Sabe Esis, sinto que lhe devo algo
importante, mas não consigo lembrar o que é. – ele disse sonolento.
O rosto de Esis entristeceu e ele não
soube o que dizer por certo tempo.
-Não tenha pressa, você vai lembrar – ao
menos era isso que ele esperava.
Quando Dean acordou pela manha não
encontrou Esis na cama, novidade, ele sabia que aquele garoto era teimoso
mesmo, não tinha muito o que se fazer.
-Então vamos lá Dean, temos muito a
fazer hoje – ele disse pensando alto.
Levantou-se tentando consertar a coluna,
aquela cadeira não era nem um pouco confortável. Ele a arrastou de volta ao seu
lugar e descobriu que Jana já estava na enfermaria.
-Ai está ela! – ela disse encarando a
poltrona na mão de Dean.
-Desculpe Dr. Jana. Eu tenho que ir.
-Ele não está? – Jana perguntou antes
que Dean saísse, este acenou negativamente com a cabeça.
-Acaso sabe para onde ele foi?
-Não. Esis nunca diz nada a ninguém, por
que acha que agora vai ser diferente?
-Tudo bem, eu me viro.
Ele se retirou dali indo ate o
dormitório, observou o quarto em volta, Esis não tinha estado ali. Continuou
procurando por toda a ala, perguntou a todos, mas ninguém tinha visto ele em
lugar nenhum.
Dean desistiu de procurar e sentou-se
embaixo de uma arvore para esperar, tinha a impressão de que ele sempre acabava
voltando para ele. Era uma sensação estranhamente intima e ele não sentiu-se
incomodado em pensar assim. Esis sempre voltava para ele, o pensamento o encheu
de outros pensamentos absurdos que ele só se deu conta que estava pensando
quando parou.
-Que loucura! – e falando nele – Por que
está me olhando assim?
-Assim como? – Dean tentou ao máximo olhar
para frente e procurou detalhes interessantes na grama ou na arvore – Aonde
você foi?
-Programar nossa batalha.
-O que? Tão cedo?
-Você mesmo disse que podíamos fazer
isso.
-Eu sei, mas eu estava muito sonolento,
você não devia levar a serio.
Esis ficou triste de saber que as coisas
que Dean diz com sono não valem de nada, então o que tinha dito sobre ele era
um nada sem valor?
-De qualquer maneira não pode mais
voltar atrás, tem consequências.
-Mas...
-Pare de reclamar e comece a trabalhar.
-Tudo bem, o que faremos?
-Vamos ate lá.
-Tipo agora?
-É, tipo agora mesmo.
Era sexta-feira ninguém ia sentir muita
falta deles, exceto os professores e os garotos que adoravam bater neles. Dean
não achou certo, mas Esis resolveu pegar o carro do diretor emprestado, eles
não eram lá as melhores pessoas do mundo. Dean adentrou o carro rezando para
que o diretor não estivesse no colégio, então Esis acelerou o carro na estrada
no fundo do colégio.
-Você é maluco, vamos estar muito
encrencados quando voltar.
-Mas ai já vamos ter feito.
Estacionaram de frente ao antigo prédio,
lá dentro era tudo bem maior do que eles imaginaram, ou pelo menos para Dean.
Para piorar estava cheio de gente o que só serviu para deixar Esis mais
nervoso, mas ele não queria que Dean percebesse, infelizmente ele percebeu.
-Calma Esis, você consegue. – ele tentou
acalmá-lo, quando ele mesmo não estava nem um pouco calmo.
Mas a cada passo que davam mais se
apavoravam, era o primeiro torneio – eles já tinham
batalhado em lutas individuas, mas nunca num torneio – deles e eles não
queriam deixar claro para os outros, mas pelo visto eles não estavam
conseguindo. Aos olhos de Esis era fácil perceber quem era lutador e quem eram
os mestres, eles pareciam trabalhar muito bem um com os outros.
-Aquele ali parece meio... – Dean
apontou o lutador do outro lado da quadra, era um gigante, mas parecia ter
pouco cérebro, eles continuaram olhando o lugar inteiro e Dean encontrou uma
sensação estranha ao encarar um dos jogadores.
-Não faça isso Dean.
-Fazer o que?
-Não o encare, ele vai achar que está
tentando intimida-lo.
Mesmo assim o cara era estranho e seu
mestre ainda mais, os dois pareciam estatuas, mas Esis sabia que eles só
estavam se concentrando. O combatente deles tinha feito o reconhecimento, agora
sabiam que Esis era o lutador e Dean seu mestre. Mas Esis esperava que eles
soubessem a dimensão de seus poderes, afinal ele era de uma raça única.
-Não quero que lute com aquele cara – Dean
soltou de repente o que fez Esis procurar pelo homem a quem ele se referia,
apontou o cara que tinha feito o reconhecimento – Se acaso cairmos com ele não
lute.
Esis observou a preocupação no tom dele percebendo
a atitude do garoto para impor as coisas, um verdadeiro Lumina draconis. Esis tentou
fazer o reconhecimento do outro lutador, mas ele tinha um muro bem forte e este
bateu de cara com ele. Esis cairia se Dean não o estivesse segurando.
-O que houve?
-Nada, só uma dor de cabeça...
-É melhor voltarmos, acho que você ainda
não está bem.
Ele assentiu deixando-se ser guiado por
Dean ate o carro. Eles esperaram ali até que pudessem fazer a inscrição, as
lutas começariam hoje, mas eles tinham sido escalados para amanha. Dean ainda
não sabia se estava pronto, tinha muito medo não só por ele.
-Já viu qual serão os prêmios? –
perguntou Esis ainda recolhido em uma cadeira.
-Não me interessa os prêmios, eu quero
apenas experiência. – Esis tinha passado horas explicando a Dean várias coisas
sobre os torneios, recompensas, lutadores e seus mestres e ele sabia que para
sua segurança e a de Esis a experiência era a melhor escolha.
-Deixe de bobagem, deixe-me ver – Dean o
entregou o panfleto – Que miséria! Esse torneio não tem muita renda pelo visto.
-Sim, o que quer fazer ate nosso nome
ser chamado?
-Não seria interessante ficar aqui e
observar?
-Não sei, você já está nervoso, observar
uma luta não o deixara ainda mais? – ele percebeu, Dean era bom em descobrir o
que Esis estava sentindo.
-Tem razão! Vamos comer alguma coisa.
Ele se levantou e Dean se apressou em
alcança-lo. Do lado de fora havia alguns mestres passeando tranquilamente.
Dean adentrou o carro enquanto os
olhares seguiam para ele e Esis, por que os estavam olhando assim? Dando a
partida ele se afastou.
-O que quer comer?
-Qualquer coisa!
-Tudo bem, então vamos comer uma pizza
bem grande.
Chegando a pizzaria eles pediram a pizza
e ficaram sentados esperando. Ate Dean dizer que ia ao banheiro, não estava se
sentindo muito bem. Sua cabeça começava a doer e seu estomago estava
embrulhado, ele se curvou sobre a privada pondo tudo para fora. E aquela dor
não passava, ficava cada vez mais forte.
Então ele se viu nos braços de seu pai –
o homem que tinha adotado eles dois – e observando Esis – que tinha seis anos
novamente – cair corredeira abaixo. Ele tentou soltar-se para ir atrás dele,
mas seu pai – nessa época ainda era apenas o homem que salvou sua vida –
segurava fortemente impedindo-o de ir ate ele.
-Não, solte-me, eu preciso ajuda-lo.
-Calma criança, não vai ajudar se atirar
na agua só vai acabar pondo a vida dos dois em perigo. – disse o homem.
-Não, Esis! – ele gritou tentando ao
máximo soltar-se.
-Vamos procura-lo tudo bem?
Mas só o que ele conseguia era gritar
pelo nome dele e tentar inutilmente ir atrás dele. Por quê? O que eram aquelas
imagens? Por que causavam aquela aflição? Ele seguiu para fora da cabine
olhando no espelho, tudo estava turvo, mas ele conseguia ver alguém no espelho,
não era ele, mas alguém muito parecido.
Ele se perguntou como tinham encontrado
Esis, em que situação ele deveria estar, sentiu uma imensa dor no peito só de
imagina-lo ferido.
-Dean – Esis acertou-lhe um tapa para
despertá-lo, estava assustando a todos dentro da pizzaria, mas nem tanto quanto
deixou Esis, seu coração estava saltando do peito.
-Esis? – ele observou o lugar a sua
volta, ainda era o banheiro.
Tinha muita gente do lado de fora do
banheiro o encarando, seus olhos estavam repletos de lagrimas, mas ele não
sabia por que tinha chorado ate lembrar-se daquilo. O que tinha sido aquilo?
-O que houve? – perguntou Esis
conferindo para ver se Dean tinha algum ferimento ou algo parecido e foi
surpreendido por um abraço – O que está fazendo? Seu idiota vai me derrubar.
-Desculpe-me Esis!
-Pare de falar besteiras, não me peça desculpas.
-Certo – ele se levantou – Foi apenas
uma dorzinha.
-Está ferido? – agora ele se preocupava?
Serio isso?
-Não está tudo bem agora Esis.
-Então pare de me assustar dessa
maneira.
-Tudo bem! – ele só não estava certo de
que isso não aconteceria novamente.
Pediu desculpas as pessoas que logo
começaram a perguntar qual era a relação deles dois, mesmo que ele dissesse que
eram amigos, quase como irmãos, ninguém pareceu muito convencido disso. Mas não
ligava para o que os outros pensavam.
Eles seguiram de volta a mesa para
tentar aproveitar um pouco da tarde. As pessoas estavam meio assustadas com a
presença deles, é eles eram estranhos e dai?
À noite eles voltaram para o colégio e
receberam uma baita bronca do diretor, que lhes mandou ir ao banheiro se lavar
e depois ir diretamente para o quarto.
-Ei – Esis começou a falar, aquela
parede separando-os – O que foi aquilo hoje?
-Desculpe, tem algo de errado comigo.
Esis ficou pensando por muito tempo se
deveria finalmente contar a ele, mas achou que mostrar a Dean seu guerreiro o
deixaria mais tranquilo essa noite. Ou pelo menos o faria esquecer-se do que
quer que o tenha atormentado. Esis se perguntou se tinha sido aquilo.
-Diga meu nome Dean – ele pediu.
Dean abriu a boca para citar o nome do
garoto, mas então percebeu que estava errado, então disse:
-Nocte draco! – disse devagar
aproveitando o quão bom soava esse nome, o quão suave ele saia dos seus lábios.
Esis sentiu aquelas palavras percorrerem
todo seu corpo, transformando-o por completo, dando a ele aquelas belas asas
prateadas e meio rosadas, aqueles longos cabelos ainda mais bonitos – ele nunca
poderia corta-los, pois era assim que Dean os preferia – aquela marca
aparecendo do seu pé esquerdo ao seu braço direito, era um belo dragão
certamente.
Enrolou a toalha na cintura e se retirou
da cabine, encontrou Dean fora da sua, o garoto parecia já saber o que fazer.
-Incrível – ele disse observando aquelas
magnificas e ameaçadoras asas escamosas – Você é...?
-Um dragão da noite e também um mago,
tenho todos os elementos por isso consigo fazer magia.
-Muito bonito – Dean estendeu a mão para
tocar o rosto de Esis, que aceitou seu toque fechando os olhos, quando eles se
abriram novamente um deles estava vermelho – O que é isso?
Esis virou-se para o espelho esperado
que Dean seguisse seu ato, assim ele o fez, um dos olhos de Dean também estava
vermelho.
-Isso é Lumina draconis! – ele disse esperando que Dean fizesse a próxima
pergunta, mas ele não fez – Isso quer dizer que somos um, nossas almas estão
tão juntas que é quase impossível nos separar, você possui o que nenhum dos
mestres tem. Esse dom lhe permite fazer maravilhas em batalhas, mas ninguém
deve saber disso ainda.
-Por que só eu tenho isso?
Esis sentiu-se envergonhado só de
imaginar, como ele diria a Dean que a única razão para eles serem como um, era
por que ele queria assim? Como diria que tinha lhe dado o coração quando nenhum
outro combatente tinha feito isso com seu mestre? Como diria que aquele dom
fantástico que permitia a Dean ser mais forte que qualquer outro mestre vinha
do amor que sentia por ele? Nem mesmo Esis sabia que tinha chegado tão longe,
que tinham chegado a dividir seu coração com Dean. Afinal o coração de um
dragão não aceita qualquer um, não que ele fosse qualquer um.
-Bem... – Esis sentiu-se ainda mais
envergonhado quando encontrou Dean o encarando e se aproximando, não queria
chamar atenção dele, queria que este continuasse com o que tinha em mente e
assim ele o fez.
Os lábios de Dean encontraram os de Esis
e ele sentiu-se imensamente feliz quando Dean o puxou para mais perto.
Quase não conseguiu segurar-se de tanta
alegria, os lábios de Dean pediam por mais, sua língua travava uma batalha com
a de Esis, mas Dean não estava nem se quer em si, só sabia que desejava
bastante seu melhor amigo.
Esis o afastou lembrando que ele tinha
uma escolha a fazer, mesmo querendo ter a certeza de que Dean já tinha
escolhido.
-O que houve? Fiz algo de errado? – Dean
perguntou percebendo a tristeza no rosto de Esis.
-Não, na verdade tudo está começando a
dar certo.
-Oh Deus, acabei de beijar meu melhor
amigo – Dean disse despertando, era como se nada o tivesse importado segundos
atrás, só beijar Esis, mas céus quem mandou aquele garoto ser tão bonito?
-Algum problema nisso? – perguntou Esis
fuzilando Dean com os olhos – Você é realmente um idiota.
Esis passou por Dean mais do que
irritado e este segurou-lhe o pulso, Esis estava pronto para bater em seu amigo
quando este o beijou novamente.
-Só estava brincando – disse Dean em
pedido de desculpa.
Dessa vez Esis se viu envergonhado, suas
bochechas assumiram um leve tom de rosa.
-O que isso quer dizer então? Você se
lembra de algo ou é outra coisa? – Esis perguntou querendo muito que a resposta
fosse que as lembranças tinham voltado.
-Não eu não me lembro de nada, mas...
Espera um momento, já tínhamos feito isso antes? – agora era Dean que estava
uma fera.
-Bem... – o que ele diria agora? Droga
Esis, você e sua boca – Não mude de assunto.
-Não me lembro de nada, só tive vontade
de fazer e fiz, só isso.
Só isso? Ele ainda tinha a coragem de
dizer só isso? Com toda certeza Esis não o perdoaria por isso.
-Amanha é sábado – ele disse perdido em
pensamentos, mas Esis sabia para onde estava rumando esses pensamentos.
-Sim, nosso dia de entrar em campo –
Esis completou seu pensamento.
-Não quero me preocupar com isso agora,
vamos dormir um pouco já são quase onze e meia – ele disse seguindo para fora
do banheiro.
Esis o viu seguir para o quarto
provavelmente sonolento, ele não estava acreditando que estavam conversando
como se aquele beijo não tivesse acontecido. Ainda assim Esis não pôde deixar
de sorrir, mesmo que ele não lembrasse... Não, ele tinha de lembrar, Esis
precisava que ele se lembrasse.
-Esis você não vem? – gritou Dean do
lado de fora.
-Desculpe, já estou indo – ele disse
correndo para fora já vestido em seu pijama preferido, por causa dos porcos
alienígenas que ele tinha desenhado.
-Você trouxe? – Dean perguntou
observando o pijama de Esis e vendo que ainda estava de toalha ali no nada.
-Aqui! – Esis o entregou o uniforme para
dormir, até mesmo isso a escola era encarregada de arranjar.
-Obrigado! – Dean voltou ao banheiro
para se vestir e quando saiu já estava espirrando.
-Está pronto para amanha? Exigirá muito
de você – Esis o estava tentando convencer a não participar? Ele não podia
estar acreditando nisso.
-Estou pronto! – Dean ainda estava
tentando se convencer disso.
Eles seguiram para o quarto, onde só
eles dois ficavam, o quartinho dos órfãos. Na verdade Dean nem sabia como tinha
vindo parar aqui, quem o tinha colocado nesse lugar e por que. Teria sido
aquele homem que o tinha salvo? Ele não sabia.
Deitou-se na cama e ficou ali por vários
instantes pensando em tudo, tentando lembrar-se de algo, enquanto ouvia os
barulhos que Esis fazia ao se mover na cama, estava tendo um sono inquieto e
isso fazia com que Dean não conseguisse dormir.- Feita por Mia
Lindo conto, cheio de sentimentos muito bom
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