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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pugnator - 3

Um possível avanço

Três semanas de treinamento e nada, os professores já estavam ficando irritados com a falta deles nas aulas e seus colegas lhe perguntavam o que estava acontecendo, ate especulavam coisas que eles não negavam nem afirmavam.

Esis estava cansado de tentar, seu corpo recebia os danos de uma má citação, mas não tinha contado isso a Dean, do contrario ele pararia. Esis precisava era que ele estivesse determinado cada dia mais, mas também andou admitindo para si mesmo que estava cada vez mais difícil ficar tão próximo a Dean e não se lembrar do passado, de tudo que tinham vivido.
Encarou-o dormindo, teve vontade de se aproximar, mas se conteve. Precisava deixa-lo escolher dessa vez, mas por tudo que era mais sagrado ele sempre pedia para que Dean escolhesse a ele.
Encarou o relógio na parede, eram seis da manha, logo Dean acordaria. Esis tentou pensar em qualquer coisa para apagar a magoa do seu rosto, não queria ser visto assim por ninguém.
Como esperado, quando o relógio bateu seis horas Dean remexeu-se na cama procurando o despertador. O barulho irritante do despertador parou e este sentou-se na cama encarando a outra cama.
Imaginando milhões de coisas das quais ele fez questão de apagar da cabeça. Os sonhos tinham parado e as visões também, mas volta e meia ele ainda ouvia a voz de Esis chamando por ele, como se estivesse mais distante a cada dia.
-Esis, está acordado?
Esis temeu responder sem saber o que vinha depois. Então sentou-se não conseguindo fingir.
-O que quer?
Dean queria entender por que seu amigo lhe parecia tão atraente hoje, ele imaginou uma cena em sua mente e depois a deletou rapidamente como se tivesse medo de que Esis pudesse saber.
-Saber como anda meu desempenho.
Esis tinha raiva só de pensar em dizer que não estava resultando em nada, quando Dean se esforçava tanto, dava o seu melhor. Eles tinham lutado juntos, várias vezes antes, mas ele tinha que se esquecer de tudo.
-Temos alguns possíveis avanços.
-Está mentindo, você nunca me olha nos olhos quando vai mentir. – embora se lembrasse pouco, conhecia Esis muito bem.
-Você não tem autocontrole sobre as palavras, elas te dominam e... – ele se silenciou antes que falasse besteira.
-E o que?
-E assim nunca conseguiremos entrar no jogo – mentiu tentando olhar nos olhos dele, mas encarar aquele mar verde fez seu coração apertar e seus olhos lacrimejarem.
-Por que está tão triste Esis? – ele mudou de assunto.
-Não estou triste, estou preocupado. Essas palavras exigem muito do mestre e do seu combatente, e se eles não estiverem em perfeito equilíbrio nunca vai funcionar.
-Vamos tentar encontrar um equilíbrio então. Vamos, Rosane trouxe bolinho de bacalhau para nós.
-Pensei que ela fosse para casa em dias de sábado e domingo.
-Isso ate ela terminar com... O que mesmo? Sexto namorado?
Esis riu junto a Dean e eles se ergueram para ir ate o refeitório. O dia de Esis piorou quando ele viu Leandra na cozinha.
-Olá meninos, vim dar assistência a Rosane – ela disse passando por estes.
-Percebemos isso sozinhos – Esis murmurou.
-O que?
-Nada, onde está Rosane? – perguntou Dean.
-Ela teve de ir buscar a filha no colégio e pediu para que eu ficasse aqui tomando conta de tudo. Ela mandou isso para você Dean.
-Obrigado Leandra!
Ela se afastou mandando beijinhos no ar para Dean. Esis sentou-se na cadeira mais distante do balcão que tinha, por que ela adorava provoca-lo dessa maneira? Ainda acreditava que ela fosse sua amiga, ate quando ela começou a ignora-lo para que Dean desse atenção a ela.
-Por que fica irritado quando Leandra está por perto?
Esis quase despejou na cara dele que era por que ele morria de ciúmes e que não suportava a ideia de Dean ver Leandra como uma parceira.
-Por que não gosto de falsidade.
-Está falando daquele dia...
-Qual? O que ela nos convidou a ir uma festa e sumiu com você me deixando para trás com um bando de adolescentes alcoolizados? Sim, é desse dia que estou falando.
-Então por que continua a falar com ela?
-Por que tenho que manter os inimigos por perto – ele disse como se fosse obvio, Dean riu com a declaração.
-Você é uma gracinha irritado.
-E você é uma gracinha surrado – ele avisou.
-Tudo bem, acabou a brincadeira. Então vamos treinar?
-Não sei, não temos muitos avanços...
-Então vamos convidar algum mestre a jogar, é na pratica que se aprende, não é o que os professores dizem?
-Mas em Pugnator a pratica sem o aprendizado leva ao prejuízo. Tenha essa conta sempre em mente.
-Então vou me esforçar para aprender... Sozinho.
-Não, tudo bem Dean, eu vou te ajudar.
-Vamos – chamou Dean pondo um bolinho inteiro na boca – Isso aqui é bom!
-Me deixa ver – Esis pegou um bolinho e colocou-o inteiro na boca, era engraçado ter a boca muito cheia com alguma coisa.
Eles saíram do prédio comendo os bolinhos e discutindo uma técnica para aprender melhor.

Treinaram durante horas, ate Esis desmaiar de cansaço. Dean correu para perto deste dando-lhe leves tapas para que este reagisse, mas nada. Pegou Esis nos braços e o levou ate a enfermaria, Jana – por sorte – estava de saída quando ele entrou.
-O que houve?
-Eu não sei, estávamos treinando artes marciais quando ele desmaiou – mentiu.
-Coloque-o ali! – ela pediu vestindo novamente seu jaleco e preparando-se para trabalhar.
Dean esperou ate que Jana dissesse o que tinha acontecido, seu coração estava batendo tão rápido que pensou que ele sairia pela boca.
-Não é nada serio Dean, ele só precisa descansar. Deixe-o dormir aqui hoje à noite e amanha estará como novo.
-Ele desmaiou, como pode estar bem?
-Quando as pessoas se cansam demais e não descansam como se deve isso pode acontecer, agora se acalme e vá descansar.
-Não, eu vou ficar aqui.
-Tudo bem, mas feche a porta depois que eu sair. – disse a doutora sem se importar. Afinal aqueles dois não se separavam nem se dissessem que faziam mal um ao outro.
Jana se retirou e Dean fechou a porta. Encarou Esis por um bom tempo, sentado na poltrona da doutora que ele tinha levado para a sala por ser mais confortável. Ele desejou que Esis acordasse e dissesse que estava tudo bem, mas então seria muito constrangedor explicar o porquê de eles estarem sozinhos na enfermaria. Mas com toda certeza daria uma bronca nele quando este acordasse.
Seu corpo se ergueu sozinho, estava escutando o instinto, e caminhou ate Esis. Cada nervo do seu corpo hesitou, mesmo assim ele ergueu a mão e afundou-as levemente nos cabelos de Esis, sentiu-se tão completo com o contato. Mas se afastou, também institivamente, voltando a cadeira.
 Ele não queria, mas seus olhos se fecharam lentamente e então ele se permitiu descansar um pouco.

Esis abriu os olhos e observou tudo a sua volta, estava na enfermaria. Sua cabeça latejou quando ele sentou-se na cama, devia ter descansado por mais tempo. Droga, agora Dean ficaria uma fera e possivelmente não iria mais querer treinar. Imagine se Esis lhe contasse sobre Lumina draconis, não ele não queria nem pensar nisso agora. Estava bem do jeito que estava. Por falar nele, onde estava Dean?
Esis percorreu o lugar com os olhos novamente e o encontrou dormindo na cadeira de frente a sua cama. Sentiu-se desconfortável só de imaginar Dean observando-o, mas também lembrava-lhe um pouco a infância, antes do acidente.
Levantou-se e logo sentiu-se zonzo, andou devagar ate alcançar a cadeira. Agitou Dean para que esse despertasse, ele não estava certo se era isso que queria, mas ainda assim o fez.
Dean abriu os olhos e assustou-se ao ver Esis a sua frente, por um instante ele achou... bem, ele achou algo estranho que agora não fazia ideia do que era. Mas então logo passou e sua preocupação e raiva ocupou o lugar.
-Sente-se Esis – Dean o forçou a voltar para a cama.
-Mas já estou bem, dessa vez, eu prometo – ele disse logo tudo de uma vez para que não perdesse tempo falando aos poucos.
-Por que não me disse que não estava se sentindo bem?
-Por que você agiria dessa forma, e nós temos que treinar para entrar em algum torneio.
-Os torneios podem esperar...
-Não, não podem. Eu tenho que lutar.
-Por quê? – Dean não estava conseguindo entender nada, por que ele tinha que lutar assim, tão apressadamente de repente?
-Por nada! Esquece – ele se apressou em dizer, na verdade Dean também precisava entrar em uma batalha, para ativar Lumina draconis, mas como Esis mesmo tinha admitido para si próprio, estava bom do jeito que estava.
-Tudo bem, então... Descanse um pouco, ao amanhecer iremos atrás de um torneio. – decidiu-se, ele também precisava aprender a como ser um bom mestre, e qual experiência melhor se não aprender na pratica?
-Está falando serio? – por que ele estava surpreso? Afinal Dean sempre fora imprevisível.
-Sim, mas descanse.
-Já sei, já sei. – Esis voltou-se a cama e deitou-se – Ah, obrigado por simplesmente não me deixar aqui e ir embora.
Dean sentiu seu rosto aquecer e voltou-se a cadeira no mesmo instante.
-Não foi nada, só fiquei preocupado e queria brigar com você por isso – ele tentou fazer parecer coisa pouca.
-Mesmo assim obrigado. – Esis tinha certeza que o estava encarando novamente, pois Dean ficou vermelho da cabeça aos pés, não dava para perceber demais, mas Esis sabia, por que já conhecia Dean o bastante para saber como este se sentia.
-Sabe Esis, sinto que lhe devo algo importante, mas não consigo lembrar o que é. – ele disse sonolento.
O rosto de Esis entristeceu e ele não soube o que dizer por certo tempo.
-Não tenha pressa, você vai lembrar – ao menos era isso que ele esperava.

Quando Dean acordou pela manha não encontrou Esis na cama, novidade, ele sabia que aquele garoto era teimoso mesmo, não tinha muito o que se fazer.
-Então vamos lá Dean, temos muito a fazer hoje – ele disse pensando alto.
Levantou-se tentando consertar a coluna, aquela cadeira não era nem um pouco confortável. Ele a arrastou de volta ao seu lugar e descobriu que Jana já estava na enfermaria.
-Ai está ela! – ela disse encarando a poltrona na mão de Dean.
-Desculpe Dr. Jana. Eu tenho que ir.
-Ele não está? – Jana perguntou antes que Dean saísse, este acenou negativamente com a cabeça.
-Acaso sabe para onde ele foi?
-Não. Esis nunca diz nada a ninguém, por que acha que agora vai ser diferente?
-Tudo bem, eu me viro.
Ele se retirou dali indo ate o dormitório, observou o quarto em volta, Esis não tinha estado ali. Continuou procurando por toda a ala, perguntou a todos, mas ninguém tinha visto ele em lugar nenhum.
Dean desistiu de procurar e sentou-se embaixo de uma arvore para esperar, tinha a impressão de que ele sempre acabava voltando para ele. Era uma sensação estranhamente intima e ele não sentiu-se incomodado em pensar assim. Esis sempre voltava para ele, o pensamento o encheu de outros pensamentos absurdos que ele só se deu conta que estava pensando quando parou.
-Que loucura! – e falando nele – Por que está me olhando assim?
-Assim como? – Dean tentou ao máximo olhar para frente e procurou detalhes interessantes na grama ou na arvore – Aonde você foi?
-Programar nossa batalha.
-O que? Tão cedo?
-Você mesmo disse que podíamos fazer isso.
-Eu sei, mas eu estava muito sonolento, você não devia levar a serio.
Esis ficou triste de saber que as coisas que Dean diz com sono não valem de nada, então o que tinha dito sobre ele era um nada sem valor?
-De qualquer maneira não pode mais voltar atrás, tem consequências.
-Mas...
-Pare de reclamar e comece a trabalhar.
-Tudo bem, o que faremos?
-Vamos ate lá.
-Tipo agora?
-É, tipo agora mesmo.
Era sexta-feira ninguém ia sentir muita falta deles, exceto os professores e os garotos que adoravam bater neles. Dean não achou certo, mas Esis resolveu pegar o carro do diretor emprestado, eles não eram lá as melhores pessoas do mundo. Dean adentrou o carro rezando para que o diretor não estivesse no colégio, então Esis acelerou o carro na estrada no fundo do colégio.
-Você é maluco, vamos estar muito encrencados quando voltar.
-Mas ai já vamos ter feito.
Estacionaram de frente ao antigo prédio, lá dentro era tudo bem maior do que eles imaginaram, ou pelo menos para Dean. Para piorar estava cheio de gente o que só serviu para deixar Esis mais nervoso, mas ele não queria que Dean percebesse, infelizmente ele percebeu.
-Calma Esis, você consegue. – ele tentou acalmá-lo, quando ele mesmo não estava nem um pouco calmo.
Mas a cada passo que davam mais se apavoravam, era o primeiro torneio – eles já tinham batalhado em lutas individuas, mas nunca num torneio – deles e eles não queriam deixar claro para os outros, mas pelo visto eles não estavam conseguindo. Aos olhos de Esis era fácil perceber quem era lutador e quem eram os mestres, eles pareciam trabalhar muito bem um com os outros.
-Aquele ali parece meio... – Dean apontou o lutador do outro lado da quadra, era um gigante, mas parecia ter pouco cérebro, eles continuaram olhando o lugar inteiro e Dean encontrou uma sensação estranha ao encarar um dos jogadores.
-Não faça isso Dean.
-Fazer o que?
-Não o encare, ele vai achar que está tentando intimida-lo.
Mesmo assim o cara era estranho e seu mestre ainda mais, os dois pareciam estatuas, mas Esis sabia que eles só estavam se concentrando. O combatente deles tinha feito o reconhecimento, agora sabiam que Esis era o lutador e Dean seu mestre. Mas Esis esperava que eles soubessem a dimensão de seus poderes, afinal ele era de uma raça única.
-Não quero que lute com aquele cara – Dean soltou de repente o que fez Esis procurar pelo homem a quem ele se referia, apontou o cara que tinha feito o reconhecimento – Se acaso cairmos com ele não lute.
Esis observou a preocupação no tom dele percebendo a atitude do garoto para impor as coisas, um verdadeiro Lumina draconis. Esis tentou fazer o reconhecimento do outro lutador, mas ele tinha um muro bem forte e este bateu de cara com ele. Esis cairia se Dean não o estivesse segurando.
-O que houve?
-Nada, só uma dor de cabeça...
-É melhor voltarmos, acho que você ainda não está bem.
Ele assentiu deixando-se ser guiado por Dean ate o carro. Eles esperaram ali até que pudessem fazer a inscrição, as lutas começariam hoje, mas eles tinham sido escalados para amanha. Dean ainda não sabia se estava pronto, tinha muito medo não só por ele.
-Já viu qual serão os prêmios? – perguntou Esis ainda recolhido em uma cadeira.
-Não me interessa os prêmios, eu quero apenas experiência. – Esis tinha passado horas explicando a Dean várias coisas sobre os torneios, recompensas, lutadores e seus mestres e ele sabia que para sua segurança e a de Esis a experiência era a melhor escolha.
-Deixe de bobagem, deixe-me ver – Dean o entregou o panfleto – Que miséria! Esse torneio não tem muita renda pelo visto.
-Sim, o que quer fazer ate nosso nome ser chamado?
-Não seria interessante ficar aqui e observar?
-Não sei, você já está nervoso, observar uma luta não o deixara ainda mais? – ele percebeu, Dean era bom em descobrir o que Esis estava sentindo.
-Tem razão! Vamos comer alguma coisa.
Ele se levantou e Dean se apressou em alcança-lo. Do lado de fora havia alguns mestres passeando tranquilamente.
Dean adentrou o carro enquanto os olhares seguiam para ele e Esis, por que os estavam olhando assim? Dando a partida ele se afastou.
-O que quer comer?
-Qualquer coisa!
-Tudo bem, então vamos comer uma pizza bem grande.
Chegando a pizzaria eles pediram a pizza e ficaram sentados esperando. Ate Dean dizer que ia ao banheiro, não estava se sentindo muito bem. Sua cabeça começava a doer e seu estomago estava embrulhado, ele se curvou sobre a privada pondo tudo para fora. E aquela dor não passava, ficava cada vez mais forte.
Então ele se viu nos braços de seu pai – o homem que tinha adotado eles dois – e observando Esis – que tinha seis anos novamente – cair corredeira abaixo. Ele tentou soltar-se para ir atrás dele, mas seu pai – nessa época ainda era apenas o homem que salvou sua vida – segurava fortemente impedindo-o de ir ate ele.
-Não, solte-me, eu preciso ajuda-lo.
-Calma criança, não vai ajudar se atirar na agua só vai acabar pondo a vida dos dois em perigo. – disse o homem.
-Não, Esis! – ele gritou tentando ao máximo soltar-se.
-Vamos procura-lo tudo bem?
Mas só o que ele conseguia era gritar pelo nome dele e tentar inutilmente ir atrás dele. Por quê? O que eram aquelas imagens? Por que causavam aquela aflição? Ele seguiu para fora da cabine olhando no espelho, tudo estava turvo, mas ele conseguia ver alguém no espelho, não era ele, mas alguém muito parecido.
Ele se perguntou como tinham encontrado Esis, em que situação ele deveria estar, sentiu uma imensa dor no peito só de imagina-lo ferido.
-Dean – Esis acertou-lhe um tapa para despertá-lo, estava assustando a todos dentro da pizzaria, mas nem tanto quanto deixou Esis, seu coração estava saltando do peito.
-Esis? – ele observou o lugar a sua volta, ainda era o banheiro.
Tinha muita gente do lado de fora do banheiro o encarando, seus olhos estavam repletos de lagrimas, mas ele não sabia por que tinha chorado ate lembrar-se daquilo. O que tinha sido aquilo?
-O que houve? – perguntou Esis conferindo para ver se Dean tinha algum ferimento ou algo parecido e foi surpreendido por um abraço – O que está fazendo? Seu idiota vai me derrubar.
-Desculpe-me Esis!
-Pare de falar besteiras, não me peça desculpas.
-Certo – ele se levantou – Foi apenas uma dorzinha.
-Está ferido? – agora ele se preocupava? Serio isso?
-Não está tudo bem agora Esis.
-Então pare de me assustar dessa maneira.
-Tudo bem! – ele só não estava certo de que isso não aconteceria novamente.
Pediu desculpas as pessoas que logo começaram a perguntar qual era a relação deles dois, mesmo que ele dissesse que eram amigos, quase como irmãos, ninguém pareceu muito convencido disso. Mas não ligava para o que os outros pensavam.
Eles seguiram de volta a mesa para tentar aproveitar um pouco da tarde. As pessoas estavam meio assustadas com a presença deles, é eles eram estranhos e dai?
À noite eles voltaram para o colégio e receberam uma baita bronca do diretor, que lhes mandou ir ao banheiro se lavar e depois ir diretamente para o quarto.
-Ei – Esis começou a falar, aquela parede separando-os – O que foi aquilo hoje?
-Desculpe, tem algo de errado comigo.
Esis ficou pensando por muito tempo se deveria finalmente contar a ele, mas achou que mostrar a Dean seu guerreiro o deixaria mais tranquilo essa noite. Ou pelo menos o faria esquecer-se do que quer que o tenha atormentado. Esis se perguntou se tinha sido aquilo.
-Diga meu nome Dean – ele pediu.
Dean abriu a boca para citar o nome do garoto, mas então percebeu que estava errado, então disse:
-Nocte draco! – disse devagar aproveitando o quão bom soava esse nome, o quão suave ele saia dos seus lábios.
Esis sentiu aquelas palavras percorrerem todo seu corpo, transformando-o por completo, dando a ele aquelas belas asas prateadas e meio rosadas, aqueles longos cabelos ainda mais bonitos – ele nunca poderia corta-los, pois era assim que Dean os preferia – aquela marca aparecendo do seu pé esquerdo ao seu braço direito, era um belo dragão certamente.
Enrolou a toalha na cintura e se retirou da cabine, encontrou Dean fora da sua, o garoto parecia já saber o que fazer.
-Incrível – ele disse observando aquelas magnificas e ameaçadoras asas escamosas – Você é...?
-Um dragão da noite e também um mago, tenho todos os elementos por isso consigo fazer magia.
-Muito bonito – Dean estendeu a mão para tocar o rosto de Esis, que aceitou seu toque fechando os olhos, quando eles se abriram novamente um deles estava vermelho – O que é isso?
Esis virou-se para o espelho esperado que Dean seguisse seu ato, assim ele o fez, um dos olhos de Dean também estava vermelho.
-Isso é Lumina draconis! – ele disse esperando que Dean fizesse a próxima pergunta, mas ele não fez – Isso quer dizer que somos um, nossas almas estão tão juntas que é quase impossível nos separar, você possui o que nenhum dos mestres tem. Esse dom lhe permite fazer maravilhas em batalhas, mas ninguém deve saber disso ainda.
-Por que só eu tenho isso?
Esis sentiu-se envergonhado só de imaginar, como ele diria a Dean que a única razão para eles serem como um, era por que ele queria assim? Como diria que tinha lhe dado o coração quando nenhum outro combatente tinha feito isso com seu mestre? Como diria que aquele dom fantástico que permitia a Dean ser mais forte que qualquer outro mestre vinha do amor que sentia por ele? Nem mesmo Esis sabia que tinha chegado tão longe, que tinham chegado a dividir seu coração com Dean. Afinal o coração de um dragão não aceita qualquer um, não que ele fosse qualquer um.
-Bem... – Esis sentiu-se ainda mais envergonhado quando encontrou Dean o encarando e se aproximando, não queria chamar atenção dele, queria que este continuasse com o que tinha em mente e assim ele o fez.
Os lábios de Dean encontraram os de Esis e ele sentiu-se imensamente feliz quando Dean o puxou para mais perto.
Quase não conseguiu segurar-se de tanta alegria, os lábios de Dean pediam por mais, sua língua travava uma batalha com a de Esis, mas Dean não estava nem se quer em si, só sabia que desejava bastante seu melhor amigo.
Esis o afastou lembrando que ele tinha uma escolha a fazer, mesmo querendo ter a certeza de que Dean já tinha escolhido.
-O que houve? Fiz algo de errado? – Dean perguntou percebendo a tristeza no rosto de Esis.
-Não, na verdade tudo está começando a dar certo.
-Oh Deus, acabei de beijar meu melhor amigo – Dean disse despertando, era como se nada o tivesse importado segundos atrás, só beijar Esis, mas céus quem mandou aquele garoto ser tão bonito?
-Algum problema nisso? – perguntou Esis fuzilando Dean com os olhos – Você é realmente um idiota.
Esis passou por Dean mais do que irritado e este segurou-lhe o pulso, Esis estava pronto para bater em seu amigo quando este o beijou novamente.
-Só estava brincando – disse Dean em pedido de desculpa.
Dessa vez Esis se viu envergonhado, suas bochechas assumiram um leve tom de rosa.
-O que isso quer dizer então? Você se lembra de algo ou é outra coisa? – Esis perguntou querendo muito que a resposta fosse que as lembranças tinham voltado.
-Não eu não me lembro de nada, mas... Espera um momento, já tínhamos feito isso antes? – agora era Dean que estava uma fera.
-Bem... – o que ele diria agora? Droga Esis, você e sua boca – Não mude de assunto.
-Não me lembro de nada, só tive vontade de fazer e fiz, só isso.
Só isso? Ele ainda tinha a coragem de dizer só isso? Com toda certeza Esis não o perdoaria por isso.
-Amanha é sábado – ele disse perdido em pensamentos, mas Esis sabia para onde estava rumando esses pensamentos.
-Sim, nosso dia de entrar em campo – Esis completou seu pensamento.
-Não quero me preocupar com isso agora, vamos dormir um pouco já são quase onze e meia – ele disse seguindo para fora do banheiro.
Esis o viu seguir para o quarto provavelmente sonolento, ele não estava acreditando que estavam conversando como se aquele beijo não tivesse acontecido. Ainda assim Esis não pôde deixar de sorrir, mesmo que ele não lembrasse... Não, ele tinha de lembrar, Esis precisava que ele se lembrasse.
-Esis você não vem? – gritou Dean do lado de fora.
-Desculpe, já estou indo – ele disse correndo para fora já vestido em seu pijama preferido, por causa dos porcos alienígenas que ele tinha desenhado.
-Você trouxe? – Dean perguntou observando o pijama de Esis e vendo que ainda estava de toalha ali no nada.
-Aqui! – Esis o entregou o uniforme para dormir, até mesmo isso a escola era encarregada de arranjar.
-Obrigado! – Dean voltou ao banheiro para se vestir e quando saiu já estava espirrando.
-Está pronto para amanha? Exigirá muito de você – Esis o estava tentando convencer a não participar? Ele não podia estar acreditando nisso.
-Estou pronto! – Dean ainda estava tentando se convencer disso.
Eles seguiram para o quarto, onde só eles dois ficavam, o quartinho dos órfãos. Na verdade Dean nem sabia como tinha vindo parar aqui, quem o tinha colocado nesse lugar e por que. Teria sido aquele homem que o tinha salvo? Ele não sabia.
Deitou-se na cama e ficou ali por vários instantes pensando em tudo, tentando lembrar-se de algo, enquanto ouvia os barulhos que Esis fazia ao se mover na cama, estava tendo um sono inquieto e isso fazia com que Dean não conseguisse dormir.


  • Feita por Mia 
Arigato Mia x3

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